Monday, January 11, 2010

Resposta ao mega-post da resposta

O rascunho que fiz há alguns meses atrás que disse ser para daí a umas semanas foi este:

"Não vou discutir questões teológico-religioso-meta-físicas, ok? Espero que me perdoem, acho que a maneira como levamos a nossa vida, e sobretudo como a encaramos, pode (e deveria) ser independente de crenças e espiritualidades. Como o avô Maia, que queria educar os seus netos segundo o moralmente correcto, que não tinha nada a ver com o que a Igreja apregoava. Digo só isto: como pessoa formada em ciência, e logo em física, a minha tendência é dizer que não há nada para lá do físico, que aquilo que apercebemos como não-físico é electricidade e pouco mais. Mas a minha maneira de ser, a minha sensibilidade, os sintomas físicos que a minha psique provoca, certos conceitos esotéricos fazem-me querer acreditar que a ciência não explica tudo."

Não faço ideia do que na altura teria seguido a isto, mas paciência, recomecemos. Aqui vai, Armando.

A tua reflexão acerca do teu último pensamento antes de morrer é algo que me assombra praticamente todos os dias da minha existência. E isto está ligado com aquilo que mais à frente disse e com o qual te preocupaste, de me sentir perdida e de não saber o que fazer para mudar isso. Citando "O Clube dos Poetas Mortos":

I went to the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life. To put to rout all that was not life; and not, when I had come to die, discover that I had not lived.

Nem sequer estou a pensar num sentido universal de "deixar a minha marca no mundo" ou de fazer algo que realmente faça a diferença nalguma coisa. Há já algum tempo que tenho uma perspectiva muito egoísta e egocêntrica do que significa para mim "sugar o tutano da vida". As minhas ambições são muito reduzidas, sempre foram, talvez devido a uma falta de auto-estima sempre latente. Pensando bem, talvez seja esse o problema. Mas preocupa-me muito que, no meio da minha apatia e auto-comiseração, esteja a perder os melhores anos da minha vida. E, pior que tudo, ter noção disso e não ter nem a força nem a coragem nem o estado de espírito para o evitar! Parece um filme que estou a ver e não consigo parar nem rebobinar! E a parte realmente idiota e sem sentido é que me sinto assim desde o início da adolescência! Amainou um pouco durante a faculdade, exceptuando claro meia dúzia de momentos particularmente merdosos, porque, lá está, por uns anos, tinha um objectivo, uma meta. Nunca tive a paixão que vocês tinham pela física, sempre me guiei pelas paixões que outros me transmitiam para gostar mais ou menos de um tema ou uma disciplina, e tive uma professora de física extraordinária. Aí está a razão para ter tido o trajecto universitário que tive. Ousei por um momento apaixonar-me por Astrofísica para ter o desgosto de ver essa ambição completamente para lá das minhas capacidades. Quando a física correu mal, agarrei-me à paixão de outra pessoa: o João Martins. E eis-me em oceanografia, a matéria menos arriscada de toda a geofísica, a minha única verdadeira escolha... mas não é algo que me define, não faz tanto parte da minha pessoa como o cinema, como a importância destas conversas e dissertações, como o amor, como a beleza que vejo de todas as vezes que olho pela janela, como os encontros tolos que tínhamos dantes de palhaçada e alegria puras, a conversar sobre nada.

Tens toda a razão na tua asserção de que me falta algo, como aliás já to disse. Continuo a ter curiosidade em saber do que se trata na tua opinião, mas continuas a não me querer dizer e também não vou insistir em que mo digas, porque é minha obrigação procurar respostas por mim própria. É minha obrigação descobrir o que quero ser, como muito bem dizes, e essa é a grande questão que coloco a mim própria, e que está na origem do sentimento de vazio que neste momento tenho dentro de mim. Aliás, sempre tive, mas relacionava-o com outras faltas. Dou-me finalmente conta de que sempre o atribuí a origens falsas e que o problema continua dentro de mim e continuo bastante longe de o resolver, embora não tão longe do que há uns anos. Mas espanta-me muitíssimo que o consigas imaginar da maneira objectiva como o descreves: Assim sendo vê bem o que te falta e toca de põr mãos a obra. É uma coisa assim tão palpável??
A questão de eu me restringir muitíssimo às condições exteriores que me envolvem, às pessoas que me rodeiam, é também verdadeira e penso que se deve a uma grande falta de imaginação e poder de auto-sobrevivência da minha parte. É também por isso que me preocupo tanto pelas opiniões que os outros têm de mim ou do que faço. Esta minha falta de elasticidade mental que me castra completamente os poderes de adaptação e me continua a impedir de estar bem não importa aonde agrava o tal vazio. Mas, como já o disse aqui, sei perfeitamente que estar bem comigo própria não depende do tempo nem do lugar, depende apenas de assuntos não resolvidos dentro de mim que me continuam a escapar por entre os dedos, por muito longo que seja o caminho que já percorri na sua direcção.
Não faço ideia a que inquietações do João Pires te referes. Porque devo fazer algo semelhante? O que fez ele?

Para finalizar, para ver se pomos o blogue em acção outra vez, respostas rápidas às perguntas directas que me colocaste, porque as minhas insinuações não eram tão complexas quanto tu supuseste:

"Nem toda a gente precisa de um projecto de vida. Ou melhor, há pessoas cujos "projectos de vida" têm escalas temporais de semanas ou até de dias ("Carpe Diem" no sentido lato)."
Carpe diem no sentido lato?? Que queres dizer com isso?


Quero dizer não se preocuparem com as consequências das suas acções e como tal tirarem prazer imediato da vida, fazerem apenas o que lhes apetece sem pensar duas vezes.

"Claro que se pode romper com isso tudo e procurar outra sociedade, cultura e mentalidade com as quais te identifiques mais."
O que queres dizer com isto?


Ir para a Índia ou o Tibete...

"embora eu esteja convencida que em termos de natureza humana as coisas que fazem sentido para uns não se afastam muito dos seus iguais, temos já umas décadas de estudo de psicologia humana que te dirão isso"
Antes de mais gostaria de ver referências sobre o que está à bold é que isso parece-me mesmo muito suspeito.


Estava a pensar no Freud :P

1 comment:

  1. Eu vou dizer algo em breve. Para a próxima semana já cá estou com a minha voz dissonante.

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