Monday, May 4, 2009

Resposta a "Quem somos então?" , "Ilusão", e "Ilusão ou sentido da vida?"

Antes de mais caros co-bloggers perdão pelo grande atraso em responder. Mas um misto de preguiça e afazeres assim o fez ser.

Temas muito importantes que vocês iniciaram. Antes de mais vou expor os meus pensamentos relativamente a estes posts: este, este, e mais este.

Antes de mais para poder haver debate com o Daniel sobre esta questão convém saber se concordamos que realmente após morrermos nada mais de nós fica. Temos que saber se acreditámos na existência da alma (uso este termo sem qualquer inclinação espiritual e/ou religiosa) como algo real e totalmente externo ao nossos corpos, ou se os nossos corpos são tudo e após o último suspiro nós deixamos de ser.

É que não em parece que tenhamos que aceitar a o pressuposto do Daniel e argumentar a partir daí. A minha posição é não ter posição. Pelo menos não uma tão demarcada quanto isso. Eu acredito que há alguma separação entre o nosso ente físico e o nosso ente não-físico (não quero aqui usar termos de inspiração religiosa).
Uma justificação algo rápida para esta minha opinião é o facto de eu me ver como um platonista/realista no que se refere à Física e a Matemática (perdoem-me os demais saberes mas são estes os que eu considero como básicos - se quiserem depois também podemos ter uma discussão sobre o que quero dizer com isto). Assim sendo acredito que os conceitos matemáticos/físicos têm uma existência objectiva e que é independente de nós. Através das experiências sensoriais nós temos intuições sobre estes mesmos conceitos e através de considerações mentais podemos polir e aperfeiçoar o conhecimento intuído.
Faço desde já a ressalva que isto que escrevi é praticamente uma caricatura das minhas ideias, mas como não vos quero maçar até a morte nem pretendo desviar-me muito do assunto só digo isto por agora.

Então, aparentemente, eu discordo do pressuposto do Daniel. Mas não é bem assim. Eu penso que existe uma separação entre físico e não-físico, mas não sei se a há. Caso não a haja também não seria algo que me espantasse muito. Sei que os meus argumentos (que não foram aqui apresentados como deve ser) são do mais circunstancial possível e dou bastante espaço para estar errado. Mas a questão mais importante para mim até nem é esta. Ainda que eu acredite numa separação entre as duas dimensões humanas não faço a menor ideia sobre a relação de dependência entre uma e outra. Clarificando: não sei o que acontecerá ao não-físico quando o físico morre e ambas as hipóteses me parecem bastante válidas.

Seja como for não considero ilusão o facto de mesmo assim dar o meu melhor em várias acções que tomo. Uma vez em conversa com o Pedro Figueira disse-lhe que ao morrer quero pensar: "Eu estive lá..." E com isto quero dizer que quero morrer contente comigo. Contente com as minhas acções e atitudes. Mesmo que após morrer não pense mais nada parece-me de muito mau gosto ter como último pensamentos algo negativo relativamente a mim.
"Mas porquê?" perguntas tu. E eu respondo que é por vaidade. Quero deixar algo de mim àqueles que me são mais próximos e algo para o mundo também. Não quero com isto dizer que tenho planos megalómanos, mas gostava de ser preponderante em alguma medida.

Agora ao ue vocês dizeram: "Ter metas é vital para viver uma vida apaixonadamente, mas não precisam ser irrevogáveis ou definitivas. Acredito que as nossas metas são tão mutáveis quanto nós próprios, vão-se adaptando e metamorfoseando assim como também nós nos vamos modificando ao longo da nossa vivência, através de tudo o que experenciamos, tudo o que sentimos." Bato palmas a isto. Muito bem dito e muito bem pensado.

"Pronto, tirei o curso... e agora?? Na verdade, gosto muito daquilo que faço e não imagino melhor trabalho. Mas... não me sinto totalmente preenchida... a paixão, sendo por definição um sentimento efémero, esfumou-se, deixando no seu lugar um agradável sentimento de segurança do conhecido, de afecto profundo, mas está na altura de encontrar outra paixão, ou de renovar as paixões que já temos! Como? Traçando novas metas, novos objectivos que queremos realizar, obrigando-nos a construir projectos, delinear trajectos até se chegar lá, já que a viagem é tão importante quanto a meta. E a viagem é a nossa vida."
A paixão esfumou-se?! Porquê?? Será porque tinhas um objectivo tão restrito? Não digo isto por mal. É que no meu caso o meu objectivo nunca foi acabar o curso. Eu queria era aprender Física suficiente para ter bases para depois poder dar Física ao mundo. Ou seja acabar o curso nunca seria o fim mas tão somente o princípio da minha jornada. Que diga-se em abono da verdade ainda não começou.

"Nem toda a gente precisa de um projecto de vida. Ou melhor, há pessoas cujos "projectos de vida" têm escalas temporais de semanas ou até de dias ("Carpe Diem" no sentido lato)."
Carpe diem no sentido lato?? Que queres dizer com isso?

"Eu sinto-me perdida. E tenho uma vida óptima. Faço aquilo que gosto, não tenho pressões no trabalho, tenho horários ultra-flexíveis, vivo numa cidade simpatiquíssima, num apartamento só meu... e, no entanto, vivo em constante ansiedade, inquietude, impaciência. Certo, a pessoa mais importante da minha vida está longe e também eu estou longe da minha terra natal e dos meus amigos, mas não consigo evitar pensar que, se estivesse junto das pessoas de quem mais gosto, teria na mesma estes sentimentos, nem que fosse de vez em quando. Porque não tenho projecto de vida, nem a capacidade de projectar nada no meu futuro devido às circunstâncias."
Então amiga que perspectiva de vida vem a ser esta?! Que é feito da tua luta e espírito aguerrido? é só para me antagonizares é?! :P
Agora a sério: esse sentimento que tu tens a mim parece indicar que há algo que ainda te falta. Tens tudo de bom (pelo aquilo que dizes e por aquilo que eu suponho), não há como o negar; e se pensas dessa maneira então tens que tomar as rédeas da tua vida. Sim da tua vida!
Não há dúvida nenhuma que aquilo que somos é em larga medida ditado pelo que está a nossa volta. Desde o tempo em que vivemos, ao local em que vivemos; enfim um sem fim de influências que nos servem como enquadramentos. Mas sinceramente parece-me que dás peso de mais a esse factor. Também há aquilo que somos e aquilo que queremos ser. Sendo queremos a palavra chave. Há que ter coragem de nos erguermos contra nós próprios olharmo-nos na cara e vermos bem o que somos e o que devemos melhorar (ou piorar se é isto o que qualquer alma mais maluca que por aí andar quiser). Assim sendo vê bem o que te falta e toca de põr mãos a obra. Eu atrevo-me a pensar que já desconfias o que é e se estiver errado peço desculpa. Passando à minha esfera: eu vejo-me como uma pessoa bastante individual, e isto a vários níveis. Não só por alguma pré-disposição mas essencialmente a um esforço bastante consciente. Eu vejo muita coisa que não em agrada a minha volta e como um dos princípios que me rodeia é ser coerente não entro em carneiradas. E estou-me nas tintas para o que irão os outros pensar. Porque não há ninguém que me critique mais do que eu. Não há mesmo! E para quê isto perguntas tu. Pois apesar de tudo isto sinto que chega um novo capítulo na minha vida. É que apesar de essa minha busca de coerência e individualidade houve uma coisa que nunca tive coragem (é mesmo cobardia) de fazer: ser mais activo a nível social. Há muitas coisas com as quais eu não concordo a nível de sociedade e governo e no entanto nunca fiz nada por ser um dos que faz algo por mudar as coisas. Basicamente mandava umas bocas entre amigos e por ali ficava. Pois, mas após umas grandes introspecções cheguei à conclusão que isso não chegava. Sim a Física e a Matemática são coisas muito bonitas e úteis que nos permitem perceber o mundo à nossa volta. Mas há um mundo muito mais imediato a minha volta e esse cada vez fica mais doente. E não é com pessoas indolentes como eu que ele vai mudar. Pois bem decidi então pôr mãos à obra e fazer algo mais. É que há pessoas que estão em condições piores que as minhas e o fazem. Há pessoas por esse mundo fora que correm risco de vida por abrirem a boca e ainda assim o fazem. Não me parece bem que eu pai de duas filhas não faça algo mais concreto por lhes deixar um mundo melhor. Como agora compreendo tão bem as inquietações do João Pires...
Não sei, mas talvez tenhas que fazer algo semelhante...


Agora para o Daniel:
"Sim, tudo isso que referiste sucede de facto ou melhor, parece-nos que assim sucede, mas acredito que não passe de uma ilusão, ou um sonho, coisa do género. Parece que estamos a fazer algo com valor para nós próprios ou para alguém mas na verdade não é isso que acontece, opinião minha mais uma vez."
Meu caro amigo isso não chega! Não é parece-me, ou acho ou qualquer outro termo semelhante. Aqui queremos raciocínios, análises, silogismos, motivos para se dizer algo. É que assim estamos só a falar de pressentimentos e não chegamos a lado nenhum. É que cada um tem direito a achar várias coisas mas nenhuma delas será debatível na verdadeira acepção da palavra debater.

"O facto de haver algo a que chamamos de sociedade e tudo o resto que lhe está associado é que faz com que tenhamos atitudes e comportamentos no sentido de concretizar os referidos objectivos "
Eu, tu, ele, nós, vós eles: isto é a sociedade. Se a sociedade está mal cabe-nos a nós tentar mudá-la. Entre nós e a sociedade existe uma relação recíproca de influência. Que não haja dúvidas nenhumas nisso! Se quiserem num post futuro posso expandir-me mais nisso. Mas por agora imagina esta gedankenexperiment: telefonas a um grande número de pessoas em Portugal e perguntas-lhe o que elas acham sobre a sociedade portuguesa. E depois perguntas sobre qual o papel delas no estado actual da sociedade. Pois bem quase toda a gente há-de dizer mal da sociedade e quase toda a gente há-de lavar as mão sobre a sua culpa. Não é preciso ser um grande lógico para se perceber que ambas as percepções não podem coexistir simultaneamente. Quer dizer até existe um modo, mas a meu ver a culpa volta a recair sobre as pessoas novamente. Tratarei deste assunto mais a sério num post futuro.

"apenas dei o nome de "objectivos de vida" como poderia dar outro nome qualquer"
E qual é a significância de poderes dar outro nome qualquer?

"Na verdade não vejo significado em nada do que uma pessoa possa fazer, apesar de a mesma sentir que está a fazer algo de grandioso ou de estar ou vir a receber grande reconhecimento por parte de outras pessoas. E o que é o reconhecimento? É mais uma coisa que não sei. Assim vivemos"
Então como vais viver a tua vida? Sentado a um cantinho uma vez que nada tem significado? A meu ver o maior reconhecimento das nossas acções deve vir de nós próprios. Sem claro cair em infantilidades de orgulhos parvos e infantis. Se fazemos algo bem feito devemos não ter medo de o reconhecer, mas ao mesmo tempo ter a sobriedade de o contrapôr com outras acções de outras pessoas. E porque acho que o reconhecimento que deveria contar mais é o nosso próprio? Porque é uma acção auto-construtiva. Uma sociedade correcta seria uma onde todas as pessoas tivessem noção do seu valor mas aonde também tivessem noção que as outras pessoas também têm valor. Assim sendo é: eu faço uma avaliação o mais imparcial e coerente daquilo que faço tendo em conta o que as outras pessoas fazem e isto por sua vez vai ajudar-me em futuras avaliações tanto das minhas acções como das outras pessoas. Talvez a palavra avaliação seja aqui muito pesada mas expressa razoavelmente bem o que quero exprimir.
E já agora Daniel o que achas deste homem?

E voltando a Ana:
"Claro que se pode romper com isso tudo e procurar outra sociedade, cultura e mentalidade com as quais te identifiques mais."
O que queres dizer com isto?

"Se não estás satisfeito com os objectivos ou sentidos ou razões de viver impostas pelo "sistema", então encontra outros"
Mas nós somos parte do sistema! E só nos impõem o que nós deixarmos. Acho que dás demasiado importância a influências exteriores no teu processo de formação e viver mas isso é algo que podemos debater muito mais.

"embora eu esteja convencida que em termos de natureza humana as coisas que fazem sentido para uns não se afastam muito dos seus iguais, temos já umas décadas de estudo de psicologia humana que te dirão isso"
Antes de mais gostaria de ver referências sobre o que está à bold é que isso parece-me mesmo muito suspeito. Apesar de haver Universais de cultura para cultura às vezes os particulares mudam mesmo muito. Um exemplo assim rápido que me ocorre. Na grécia antiga a homosexualidade (monogámica) entre soldados era fortemente esperada. O raciocínio deles para isto era que havendo amor pela pessoa que está a nosso lado iríamos lutar muito mais para assegurarmos a sua sobrevivência. Hoje em dia sabemos bem o que pensam as forças armadas sobre a homosexualidade: nos EUA por exemplo eu sei que até bem pouco tempo homosexuais não eram permitidos nas forças armadas (não sei como está ainda a situação). Claro que podes bem dizer: "Ó Armando estás a comparar u ma coisa do mundo modernos com outra coisa de há mais de 2000 anos atrás!" mas vamos então ao mundo moderno: Casamento de homosexuais por exemplo. Legalização da marijuana. Eutanásia... etc, etc, etc,... Se no entanto achas que isto que o que digo pouco ou nada tem a vem com o que querias dizer corrigi-me.

E agora para o teu último parágrafo: isso que tu dizes não é uma gedankenexperiment. Por este mundo fora e ao longo dos tempos têm ocorrido alguns casos do que são chamadas de feral child e os resultados de tal upbringing são bastante coerentes uns com os outros. Depois diz-me se estes casos se adequam ao que tu supunhas ser a resposta (estou a assumir que tu pensavas qual seria a resposta.).

Enfim desculpem pelo post quiçá demasiado longo e pelo tom tão do contra. E digo isto sem qualquer ironia.



Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém..